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QUEM SOMOS

Da História Atlântica

   Nas últimas décadas, perspectivas diversas de uma história conectada dos mundos atlânticos vêm mobilizando investigações, abordagens e reflexões. Surgem esforços sistemáticos para adaptar conceitos, ferramentas metodológicas, suportes teóricos, visando possibilidades de interpretações históricas.

   Em resumo têm surgido pesquisas, ensaios e investigações criticando histórias nacionais e/ou histórias dos impérios que ainda mantêm a visão do Atlântico dentro de um arcabouço supranacional a partir do qual podem ser localizadas histórias particulares de lugares, populações, migrações, experiências, processos ou eventos. É possível ampliar para além da ênfase nas dimensões transnacionais das histórias atlânticas. Não se trata simplesmente de pensar as relações entre metrópoles e colônias ou o movimento de populações, migrações forçadas, saberes, cultura material e imaterial, bens ou idéias. São colocados desafios para pensar histórias atlânticas em dimensões macro ou micro-históricas de conexões. Assim eventos, experiências, processos e relações podem ser considerados entidades conectadas, ainda que sob observação e demonstração empíricas diversas.

  É fundamental reconhecer conjuntos de experiências e processos históricos conectados, cruzados e compartilhados. Tais conexões plurais produziram, refizeram e reinventaram o atlântico. Algo complexo sob diferenciações observáveis nas unidades e coerências analíticas. São várias as perspectivas que permitem conceber os processos históricos conectados nos mundos coloniais e pós-coloniais, entre escravidão, pós-emancipação enquanto dimensões temporais e espaciais próprias, mas nunca isoladas.

    O principal esforço é a apreensão de uma História Atlântica nas suas perspectivas dinâmicas, a partir do qual eventos históricos particulares sejam identificados, articulados, comparados e apreendidos enquanto conexões. Busca-se assim não uma “pluralidade integrada”, mas sim “processos, as conexões e as relações que formaram e refundiram o Atlântico, tanto nas suas distintivas extensões espaciais e ritmos temporais como nas inter-relações necessárias e nos condicionamentos mútuos de desdobramentos históricos particulares”. Como tem analisado DaleTomich é possível tomar como ponto teórico de partida a afirmação de Braudel de que os europeus não descobriram as Américas; descobriram sim o oceano. Sob condições altamente desiguais associadas à expansão européia, agentes humanos diversos precisaram estabelecer relações materiais e sociais entre diferentes áreas de uma região atlântica que surgia onde antes nada havia. Através de processos políticos, econômicos, sociais e culturais diversos, criaram-se historicamente elos específicos no espaço e através do tempo. Existiram desdobramentos históricos particulares através das relações que eles tinham entre si e com possibilidades e restrições apresentadas pelo Novo Mundo Atlântico. A história atlântica tanto é uma condição para essas histórias quanto um produto delas.

    Articulando linhas de pesquisas -- produção de dissertações e teses e o diálogo mais amplo possível com as áreas de Antropologia, Arqueologia Histórica e Geografia entre outras – o LEHA pretende oferecer um espaço de sistematização de reflexões teóricas e de estudos empíricos.

Fonte: adaptado de TOMICH, Dale. “O Atlântico como Espaço Histórico”. Estudos Afro-Asiáticos, (Dossiê “História Atlântica” organizado por Flávio Gomes e Dale Tomich), Centro de Estudos Afro Asiáticos, Rio de Janeiro, volume 26, número 2, 2004, pp. 221-240

 

Referências bibliográficas

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COOPER, Frederick. “Race, Ideology, and the Perils of Comparative History” (Resenha dos livros: Black Liberation: A Comparative History of Black Ideologies in the United States and South Africa de George M. Fredrickson e Songs of Zion: The African Methodist Episcopal Church in the United States and South Africa de James T. Campbell), The American Historical Review, volume 101, número 4, 1996, pp. 1122-1138

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